Pantera Negra e as lições de um filme que é mais que entretenimento

Mesmo meu irmão tentando, anos a fio, me convencer que passar 2hs vendo socos e a jornada do herói em looping seja algo muito legal, não sou o tipo de pessoa que curte filmes de super-heróis. Cheguei a assistir a Jessica Jones só porque considerei que a personagem me parecia ter mais proximidade com a humanidade (dando um jeito pra sobreviver pagando aluguel e se alimentando de comida congelada) – e além do mais, é uma super-heroina, né.

Aí que todo mundo começa a falar de Pantera Negra.

Dia 15/02 foi a estreia do filme no Brasil, que levou mais de 1,7 milhão de pessoas aos cinemas, colocando o longa como a terceira maior estreia da Marvel no País e apresenta a importância de um filme de tal proporção ser inteiramente dominado por atores e personagens negros. Semana passada, fui uma das várias pessoas a ir assisti-lo no cinema. E que surpresa boa.

É um filme de super-herói? É. Mas ele é também uma grande mensagem sobre respeito, liderança, lar, identidade e representatividade.

 

Respeito

Me perdoem xs aficionadxs por super-heróis, mas Pantera Negra é um filme sobre mulheres. Mulheres negras. Elas foram, são e serão a base de toda uma nação – são o conhecimento, os laços, a medicina, a tecnologia. As personagens de destaque estão entrelaçadas em toda a narrativa: Nakia (Lupita Nyong’o) é a representação da coragem e altruísmo, Shuri (Letitia Wright) é a responsável por todos os avanços tecnológicos em Wakanda e Okoye (Danai Gurira) é a guerreira comandante de um exército (composto por mulheres). Todas diferentes e especiais, unindo qualidades que vão inspirar gerações de meninas pelo mundo.

Liderança

T’Challa (Chadwick Boseman) se torna Rei de Wakanda, após seu pai falecer em um atentado. Mesmo sendo a figura que iria assumir o trono em sequência e que foi preparado para essa posição desde criança, T’Challa não esperava que esse momento chegaria dessa forma. Assim, T’Challa tem de enfrentar momentos de decisão com o mundo e consigo mesmo.

Como o rei representa o soberano escolhido pelos deuses, T’Challa deveria seguir o que estava sendo feito, certo? Errado. Ele mostra-se o líder que se questiona, que tem desejos e receios, que se abre para ouvir as necessidades das pessoas à sua volta, que encontra meio termos (por que não?), não tem medo de mudar práticas que já não fazem sentido hoje e assume a responsabilidade das consequências de suas ações.

Lar

Uma nação com tecnologias avançadas, sem miséria e índices de violência – só que o resto do mundo não sabe: assim é Wakanda. Manter segredo e impedir a entrada de pessoas seria a saída para manter tudo isso sob controle, certo? Mas e os outros? E as tantas pessoas no mundo buscando um lugar para viver? Fechar as portas para elas seria a saída?

Pantera Negra joga um holofote sobre a questão migratória e a intolerância, pautas mundiais que crescem a cada dia.

Identidade

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Figurino, maquiagem, cenários – tudo que se vê traz associação com a tradição tribal africana, que no filme se mistura com uma série de inovações tecnológicas (meios de transporte, roupas, devices). Essa mistura de representações reforça a proposta de uma nação que pensa no futuro sem esquecer suas tradições e seu passado.

Representatividade

Além de todas os pontos abordados anteriormente (como elenco, roteiro e equipe de produção), Pantera Negra traz diálogos impactantes, que fazem referências aos impactos do colonialismo e do racismo estrutural. A narrativa, mais uma vez, leva a gente a pensar: existe mesmo alguém ruim x alguém mal aí?

Ponto de vista

Killmonger, é o vilão desse enredo. Ele revela ser primo de T’Challa, que quando criança encontrou seu pai N’Jobu (um espião de Wakanda enviado para os Estados Unidos) assassinado em casa. Órfão de pai, Killmonger se radicaliza e canaliza a raiva para tentar completar os planos de N’Jobu: usar o vibranium, metal precioso que só existe em Wakanda, como uma arma de libertação para povos oprimidos em todo o mundo.

Em uma recente entrevista, Chadwick Boseman (T’Challa), afirmou: “Eu sou, na verdade, o inimigo; o inimigo que eu sempre conheci. Ele tem poder. Ele tem privilégio.”

Então, quem é vilão e quem é herói nessa históra?

Definitivamente Pantera Negra entrou para a história do cinema, que vai muito além das bilheterias e lucros de entreteinement. Um filme que mostra questões políticas e culturais atuais, apresentando mensagens sociais uma atrás da outra, provocando discussão e levando crianças, adolescentes e adultos a conhecerem um super-herói negro e líder de uma nação, diferente de qualquer um que já se viu.